Linkedin adequou sua política global a legislação brasileira e isso é o que a sua empresa também deve fazer

Linkedin adequou sua política global a legislação brasileira e isso é o que a sua empresa também deve fazer

Se você, assim como eu, é uma pessoa que utiliza a maior rede de relacionamento profissional do mundo, certamente ficou impactada com a repercussão de um episódio envolvendo a plataforma. Em resumo, no último dia 24 de março a plataforma excluiu um anúncio de vaga direcionado exclusivamente para pessoas negras e indígenas. A medida arbitrária gerou enorme comoção pública envolvendo inclusive organizações privadas, como a Natura.Co, e órgãos da administração pública, como o Procon.

O debate público decorrente do episódio nos ajudou a discutir questões fundamentais como a importância das Ações Afirmativas para a sociedade brasileira e a intencionalidade como ferramenta de promoção da equidade em contextos desiguais como o nosso. Muito embora a comoção pública tenha de fato impactado a movimentação da plataforma, a adequação da política à legislação brasileira respondeu a um imperativo legal.

Neste artigo apresento uma outra perspectiva trazendo para a luz a necessidade de “tropicalização” de políticas, processos e estratégias DEI e ESG em organizações globais.

O Estatuto da Igualdade Racial em seu artigo 39 determina que “o poder público promoverá ações que assegurem a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho para a população negra, inclusive mediante a implementação de medidas visando à promoção da igualdade nas contratações do setor público e o incentivo à adoção de medidas similares nas empresas e organizações privadas.” Esse artigo do Estatuto da suporte a igualdade formal apresentada no ao artigo 5º da Constituição Federal. Além disso, esse mesmo artigo dá materialidade ao Princípio da Isonomia, princípio este que apresenta como premissa de justiça o tratamento desigual de indivíduos, o que podemos chamar de discriminação positiva.

Tratar de forma específicas grupos sociais sub representados é atender aos fundamentos do princípio da isonomia que tem como objetivo equalizar as normas e os procedimentos entre os indivíduos, garantindo que a lei será aplicada de forma igualitária entre as pessoas, levando em consideração suas desigualdades para a formulação de decisões, ações e procedimentos (tanto público quanto privados).

É precisamente este raciocínio que deve nortear as decisões estratégicas de organizações que tem na Diversidade, Equidade e Inclusão um compromisso conectado a agenda ESG. Empresas globais com operação em países colonizados, como é o nosso caso, devem se atentar para o contexto de desigualdade em que se encontram, entender a legislação local que da aso a políticas de discriminação positiva, e então tropicalizar suas estratégias para que de fato tenham eficácia e eficiência nesses contextos.

O Linkedin precisou dessa exposição e comoção para rever seus processos, políticas e procedimentos, sua empresa não precisa cometer esse equívoco para adequar sua realidade ao novo paradigma social que tem no seu centro as pessoas e o capital humano que compõem a cultura da sua organização.

Não haverá uma agenda Social em ESG efetiva se ela não atender corresponder ao conceito de Justiça Social de cada país onde a organização está estabelecida. Justiça social se faz com justiça organizacional. Em países cuja desigualdade é estrutural e sistêmica, Justiça Organizacional se faz por meio de ações que promovam Equidade. Equidade se faz quando reconhecemos essas desigualdades e utilizamos o que há de disponível no ordenamento jurídico para agir por meio de discriminações positivas, como as Ações Afirmativas.


Reserva de vagas, ou vagas direcionadas a um grupo específico encontram respaldo legal e, portanto, são a própria intencionalidade de justiça social em ação. Para atuar efetivamente e estrategicamente na agenda Social do ESG, as organizações precisam entender que não será reproduzindo ações em série que ela vai conseguir, decisões cascateadas de forma padronizada e top down é o mesmo que manter o status quo, nada diferente do que foi a própria colonização. É preciso pensar e atuar para uma agenda ESG tropical o bastante, e que respeite as particularidades de um país cuja desigualdade é produto de um processo histórico de violação de identidades originárias.  Dito isso, afirmo que o Linkedin não mudou de ideia, ele apenas fez o que precisa ser feito.

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